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Pio Penna Filho comenta os conflitos no Mali
Os Conflitos no Mali
Pio Penna Filho
O Mali é um país africano pouquíssimo conhecido fora da África. O país, um dos mais pobres do mundo, foi colônia francesa do final do século XIX até o ano da sua independência, ocorrida em 1960. Atualmente, vem chamando a atenção do mundo em decorrência de um golpe de Estado e de distúrbios no norte e na região onde fica a capital, Bamaco.
O território que hoje pertence à República do Mali é uma área de transição entre o Norte da África e a chamada África Ocidental e foi berço de importantes impérios africanos que ali floresceram bem antes da chegada dos europeus. Os imponentes Império de Gana, Império Mali e Império Sonhai foram as mais expressivas organizações políticas que existiram naquela área na fase pré-colonial.
A conquista do território pelos franceses ocorreu num momento em que todos esses impérios já haviam ruído. A colonização seguiu o modelo de exploração padrão francês, sem promover nenhum grande empreendimento na colônia. Já independente, o Mali surge como um Estado frágil, tanto em termos econômicos quanto institucionais.
Sua história recente como país, ou seja, a partir da independência em 1960, registra pelo menos três modelos políticos distintos. O primeiro foi o unipartidarismo dos anos iniciais, com inclinações pró-Soviéticas, depois veio um violento regime militar e, por último, a instauração de uma democracia pluripartidária, frequentemente colocada à prova por várias tentativas de golpes de Estado.
São três os principais problemas políticos do Mali no momento. Em primeiro lugar, destaca-se a intençãode uma facção dos tuaregues de proclamar a independência da região chamada de Azawad. Em segundo, outro grupo tuaregue busca impor uma ordem essencialmente religiosa para o Mali, porém sem a secessão desejada pelo primeiro. Em terceiro, um grupo de militares insurgentes que se rebelou contra o governo e provocou a queda do regime do presidente Amadou Toumani Touré.
O primeiro grupo citado está congregado em torno do Movimento Nacional de Libertação Azauade (MNLA), que liderou a rebelião tuaregue visando a independência do território Azawad, que engloba boa parte do país. O grupo se viu subitamente fortalecido quando do retorno de muitos tuaregues que lutaram como mercenários ao lado de Kadaffi, na guerra civil da Líbia, e que regressaram fortemente armados do conflito. Vale lembrar que os tuaregues estão dispersos entre Mali, Níger, sul da Argélia, Chade, Burkina Faso e sudoeste da Líbia.
O segundo movimento é o chamado AnsarDine, um grupo predominantemente formado por tuaregues fundamentalistas que querem a implementação de um Estado teocrático baseado na Sharia em todo o Mali. O Ansar Dine é um aliado de ocasião do MNLA, principalmente pelos laços étnicos comuns. Todavia, seus objetivos são muito mais religiosos que políticos. Há evidências de que possui relações com outros grupos fundamentalistas islâmicos, como a Al-Qaeda.
Por fim, e como reação à condução da política governamental contra os tuaregues, um grupo de militares de média patente, liderados pelo capitão Amadou Konaré, criou o chamado Comitê Nacional para a Restauração da Democracia e do Estado (CNRDR). Foi justamente esse grupo que promoveu o golpe de Estado em março desse ano.
O Mali vive atualmente seus terríveis dilemas políticos. Parte de sua população está submetida ao terror do fundamentalismo islâmico e outra parte à mercê da vontade e da violência de militares golpistas que, em nome da democracia, derrubaram um governo democraticamente eleito. Por enquanto não existem boas perspectivas para o país. A solução passa, pelo menos por ora, necessariamente por maior envolvimento da comunidade internacional, que infelizmente não está muito interessada e com disposição para agir.
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