Guerra das Malvinas, Trinta Anos
Pio Penna Filho
Há trinta anos acontecia a Guerra das Malvinas, episódio que colocou em lados opostos a Argentina e a Inglaterra. Os argentinos, governados por uma ditadura militar cruel e decadente, desafiou abertamente os ingleses que, por sua vez, estavam sob a administração de um governo Conservador e impopular que tinha como primeira ministra Margaret Thatcher, conhecida como a ?Dama de Ferro?.
Os argentinos disputavam (e ainda disputam) a soberania sobre as Ilhas Malvinas há muito tempo, desde o século XIX, quando os ingleses se apoderaram do arquipélago numa época em que a Inglaterra expandia os seus tentáculos colonialistas em todas as direções do planeta.
Ocorreu que, no ocaso da ditadura militar, com o país em crise econômica e a legitimidade do governo sendo crescentemente contestada pela opinião pública, os militares se lançaram numa aventura mal planejada e pessimamente calculada.
Acharam os argentinos que o governo britânico não iria reagir militarmente, que os Estados Unidos iriam ficar ao seu lado ou, então, não apoiariam tão decididamente os britânicos e que o dispositivo militar enviado às Malvinas seria suficiente para manter a posse das Ilhas. Quantos enganos!
Quando Thatcher anunciou a disposição britânica em ir à guerra para retomar a posse das Falklands, como os ingleses denominam as Malvinas, e ordenou aos militares a mobilização de tropas especiais e da força tarefa encarregada da missão, ficou claro que os ingleses não estavam para brincadeira.
Os argentinos também se decepcionaram profundamente com os norte-americanos, uma vez que o governo Reagan deu total apoio aos ingleses, jogando na lata do lixo o Tratado que vinculava os Estados Unidos aos países americanos desde a Segunda Guerra Mundial e que consistia, basicamente, num arranjo diplomático de segurança coletiva.
Denominado de Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), o Tratado previa que, em caso de guerra entre um país americano e um país extracontinental, os países americanos deveriam tratar a agressão como uma agressão coletiva, se empenhando, naturalmente, ao lado do país americano. Todavia, para efeitos práticos, os Estados Unidos interpretaram que o agressor não era a Inglaterra, mas sim a Argentina, que havia invadido e ocupado militarmente as Malvinas. A bem da verdade essa atitude dos Estados Unidos não foi tão ruim assim, uma vez que demonstrou claramente aos ingênuos qual era a visão dos norte-americanos em relação aos latino-americanos.
A Guerra teve efeitos danosos para os argentinos. Centenas de jovens perderam suas vidas numa guerra fadada ao fracasso e o país sofreu um grande revés diplomático em sua reivindicação pela soberania do arquipélago. Talvez o único saldo positivo tenha sido o fato de que a Guerra apressou o fim da já decrépita ditadura dos militares no país vizinho, de longe a mais cruel de todas as ditaduras militares do Cone Sul.
fonte: http://www.humorpolitico.com.br/index.php/page/29/
Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: [email protected]