Pio Penna Filho
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) foi criada em 1949 no contexto da Guerra Fria, que opunha os Estados Unidos e seus aliados à então União Soviética. Por sua vez, para fazer frente à OTAN, os soviéticos criaram o Pacto de Varsóvia, uma outra aliança militar que desapareceu com o fim da Guerra Fria. A OTAN não só sobreviveu ao fim da era bipolar como foi ampliada a partir de 1989.
De lá para cá vimos assistindo a uma ampliação da Aliança não apenas na quantidade de membros mas também e, principalmente, de suas funções. Criada como um típico pacto militar para defesa dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, gradativamente a OTAN começou a operar em outros teatros, e cada vez de forma mais agressiva.
Em 1999 a Organização, mesmo sem ter autorização prévia do Conselho de Segurança das Nações Unidas, empreendeu ataques contra a República Federal da Sérvia, alegando intervenção humanitária pela guerra então em andamento em Kososo e que opunha kosavares e albaneses contra sérvios. O resultado foi um festival de atrocidades.
Embora os militares e milicianos sérvios estivessem, por sua vez, barbarizando com os kosavares e com os albaneses, as iniciativas da OTAN não se restringiram a ações pontuais contra alvos militares. Como efeito colateral dos bombardeios da OTAN, centenas de civis que nada tinham a ver com a guerra em Kosovo e que nem moravam naquela então província da Sérvia, foram atingidos pelas bombas ?cirúrgicas? dos modernos aviões de caça da vasta frota da Aliança Ocidental.
Agora a história se repete no Afeganistão. Em março de 2010, inclusive, chamei a atenção, nessa mesma coluna, para os ?enganos da OTAN? naquele país. Escrevi que era recorrente os pedidos de desculpas da Aliança perante os afegãos e toda a comunidade internacional sempre que erravam o alvo. O problema é que erravam e continuam errando desmesuradamente.
No sábado passado mais uma chacina foi perpetrada pela OTAN no pobre Afeganistão. Após mais um dos seus ?enganos?, bombas da Aliança mataram pelo menos 12 crianças e duas mulheres na localidade de Nawzad. Gente pobre, que nada tinha que ver com o movimento Taleban ou com a rede Al Qaeda, mas punida por viver num território em conflito com o Ocidente.
Até mesmo o presidente afegão, Hamid Karzai, um aliado e praticamente um fantoche colocado no poder pelos interesses norte-americanos, elevou o tom de voz e foi duro ao criticar as ações da OTAN. Karzai afirmou que se a organização não mudar sua forma de agir passará a ser tratada como mais um invasor no país. O que, convenhamos, é a pura realidade há muito tempo.
Mas o que mais incomoda e principal motivo pelo qual retorno ao assunto, é a covardia e a inação da comunidade internacional com relação as atrocidades cometidas em nome da ?democracia? e da ?guerra contra o terror?. Milhares de inocentes já perderam a vida e outros milhares haverão ainda de sofrer em decorrência da brutalidade do Ocidente. Uma brutalidade covarde, desmedida e sempre impune.
*Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail:
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