As Guerras de Obama
Pio Penna Filho
Em 2009 Barack Obama ganhou o prêmio Nobel da Paz. Mas, diante de tantas guerras nas quais os Estados Unidos estão metidos até a alma, uma pergunta não pode deixar de ser feita: será que o prêmio foi realmente dedicado a uma personalidade comprometida com a paz ou o comitê responsável pela ilustre distinção estava redondamente equivocado?
Obama assumiu a presidência com um discurso de mudança e resgate de certos valores morais que os Estados Unidos estavam visivelmente perdendo perante o mundo, tal a ferocidade imperial desencadeada pela administração Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Mais de dois anos já se passaram desde que Obama está à frente do governo dos Estados Unidos. Em termos de guerras, a herança que recebeu do governo anterior continua valendo, ou seja, efetivamente, Obama não encerrou a participação norte-americana nos conflitos do Iraque e do Afeganistão. Pode-se afirmar, a seu favor, que no Iraque houve uma redução de efetivos, mas isso não significou a retirada dos Estados Unidos e a tal propalada estabilidade do país. A insurgência continua e é lá que está localizada a maior embaixada dos Estados Unidos em todo o mundo, inflacionada pelos assessores militares.
No Afeganistão a presença militar norte-americana também aumentou. O conflito naquele país continua indefinido e as agressões se ampliaram, extrapolando suas fronteiras e chegando ao vizinho Paquistão. É bem verdade que por lá os Estados Unidos buscaram legitimar a guerra envolvendo mais países no conflito, nomeadamente membros da OTAN. Formaram uma coalizão, mas uma coalizão liderada pelos norte-americanos.
Embora não haja exatamente uma situação de conflito entre Estados Unidos e Paquistão, é fácil questionarmos a natureza desse relacionamento, principalmente quando pensamos na freqüência com que ataques de aviões não tripulados (drones) são desfechados contra alvos naquele país. O mais assustador é a relação de cumplicidade do próprio governo paquistanês, que sistematicamente faz vistas grossas às investidas militares dos Estados Unidos.
Guantánamo é outra frustração com relação ao compromisso de Obama com a paz e com os direitos humanos. Nesse caso, trata-se de um verdadeiro acinte contra a humanidade. Abusos de toda ordem, tortura, limbo jurídico para os prisioneiros. Alguns ficaram detidos por anos e depois, como num passe de mágica, foram libertados sem qualquer justificativa, o que prova a arbitrariedade total das prisões.
Mas existem coisas piores ou iguais a Guantánamo acontecendo no mundo da pax americana. Veja-se, por exemplo, as recentes denúncias de que esquadrões de extermínio atuaram ou, pior, ainda estão atuando no Afeganistão. Matam insurgentes e civis indiscriminadamente, assassinam crianças, mutilam corpos, tiram fotografias para exibir como troféus de guerra e ninguém é punido.
Diante de um quadro tão dramático fica difícil entender como o Nobel da Paz pôde ser dado justamente ao presidente dos Estados Unidos. Diante dos últimos acontecimentos na Líbia não resta dúvida da natureza da política externa norte-americana, cada vez mais imperial. Pensam agora em armar os rebeldes, ou seja, em fomentar ainda mais guerras.
Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: [email protected]