O terrorista de extrema direita Norueguês - por Nani
Terrorismo de Direita
Pio Penna Filho*
O atentado terrorista ocorrido na Noruega é mais um exemplo da intolerância crescente em diversos círculos de direita espalhados pelo mundo. O que ocorreu no país nórdico, reconhecido mundialmente pelo elevado nível de vida de seus habitantes, foi uma tragédia que não pode ser esquecida e que deve ser melhor compreendida.
Um aspecto que gostaria de destacar neste artigo é o fato de que, tão logo divulgada a notícia, ainda pelas redes de televisão com alcance mundial e praticamente no calor da hora em que havia ocorrido o atentado, os primeiros e mais afoitos jornalistas e analistas internacionais atribuíram o episódio a uma ?suposta? ação de terroristas islâmicos. Ninguém, pelo menos que tenha aparecido na televisão, chegou a levantar a hipótese de que o terrorista pudesse ser um norueguês não-muçulmano e comprometido com um pensamento de direita, racista e xenofóbico.
Essa foi apenas mais uma demonstração de como a imagem construída em torno do islamismo, principalmente por agências ocidentais, teve um grande sucesso em associar o terrorismo ao Islã e quase que apenas ao Islã. E não foi a primeira vez que isso aconteceu.
Nos Estados Unidos, quando do atentado ocorrido em 1995 em Oklahoma City, perpetrado por um americano branco, provavelmente de olhos azuis e pedigree, e que deixou 168 mortos e mais de 500 feridos, os apressados de então suspeitaram de quem?
Tudo fica ainda mais grave quando assistimos, um tanto embasbacados e um tanto desiludidos, como muitos cidadãos europeus reagiram ao ato terrorista de direita realizado por um, até então, insuspeito cidadão norueguês. Pois não é que muitos ?bravos? foram dedicados às ideias racistas que embalaram a matança em Oslo e na ilha de Utoya?
E o que dizer da citação, em seu manifesto de 1.500 páginas, sobre a permanente ?disfuncionalidade? da sociedade brasileira, um produto direto, segundo o terrorista hoje chamado de insano, da nossa miscigenação? Está aí contido o puro racismo, infelizmente compartilhado por muitos e muitos outros concidadãos de uma Europa marcada pelo crescimento da xenofobia e do racismo em pleno século XXI.
O fenômeno do terrorismo de direita é muito pouco comentado. Normalmente, vemos uma crítica contundente ao terrorismo islâmico, ao radicalismo religioso e aos diversos terrorismos de esquerda como se fossem diferentes, mais agressivos e condenáveis do que o chamado terrorismo de direita. Na verdade o terrorismo é um só. Não importa se praticado por grupos de esquerda, por fundamentalistas religiosos, por direitistas radicais ou por agentes a serviço de governos constituídos, vários dos quais legítimos representantes de regimes democráticos.
Trata-se de uma manifestação execrável, que geralmente atinge civis, gente inocente que nem imagina o motivo pelo qual está sendo assassinada, massacrada. Por isso mesmo o terrorismo deve ser veementemente condenado, seja de que origem for. O que não vale é alegar que todos os terroristas brancos e confessadamente de direita sejam tratados como loucos enquanto aos outros se atribui um motivo torpe e intolerante.
*Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: [email protected]