Pio Penna Filho*
Há muito tempo não víamos um cenário de crise econômica tão intenso em partes da Europa como estamos assistindo hoje. Por enquanto a crise afeta principalmente Irlanda, Grécia, Portugal e Espanha. Uma das perguntas iniciais é: qual será o próximo? O fato é que os europeus estão começando a provar o remédio amargo praticado pelo Fundo Monetário Internacional que nós, brasileiros, pelo menos os da minha geração, conhecemos muito bem.
Um dos resultados mais nefastos da crise é o desemprego, que afeta de forma especial os mais jovens. Geralmente são pessoas qualificadas, com diplomas de curso superior e muitos com pós-graduação, mas que não conseguem colocação no mercado de trabalho ou, quando conseguem, tem que se submeter a remunerações baixas, pelo menos para os padrões europeus.
Um outro aspecto da crise é que ela está afetando também as relações entre os países no âmbito da União Europeia. Por um lado, os mais afetados, citados acima, emitem sinais cada vez mais fortes de descontentamento com os mais desenvolvidos. Por outro, alguns setores políticos de países como a Alemanha e a Finlândia, por exemplo, dizem que a responsabilidade pela crise é de governos incompetentes que não se preocuparam com a condução mais adequada de suas economias e que agora chegou o momento de pagar a conta.
O fato é que não existe maneira suave para conter a crise e há um preço político caro a ser pago pelos partidos que estão no poder. Os resultados eleitorais na Espanha e em Portugal são claros exemplos disso. E é preciso considerar que mesmo mudando o governo dificilmente a política econômica mudará. Nessa altura, tanto faz ser de ?direita? ou ?esquerda?.
Isso significa que para as populações da Grécia, da Espanha e de Portugal o futuro econômico não é muito promissor, pelo menos não no curto e médio prazos. Ao aderirem ao processo de integração europeu esses países abriram mão de valiosos instrumentos macroeconômicos que são úteis para a defesa da economia em momentos de crise. Agora, não contam sequer com uma moeda própria.
Alguns analistas tem colocado em dúvida a capacidade da União Europeia de lidar com a crise na zona do euro. Os mais céticos chegam mesmo a afirmar que a saída para alguns países é radicalizar o processo e não honrar os compromissos assumidos, ou seja, praticar o calote. Coisa muito difícil de acontecer, mas não impossível.
Parte dos cidadãos europeus já não conseguem mais empregos em seus países de origem e estão começando a ter dificuldades de encontrar trabalho até mesmo em outros países da Europa. O que está acontecendo agora é que muitos estão tendo que buscar trabalho bem longe de casa, seja nos Estados Unidos ou em outros países emergentes. É um bom momento para que os europeus revejam os seus conceitos de superioridade.
*Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: [email protected]