Os negócios da China
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Os negócios da China


Negócios na China

Pio Penna Filho

Mal o ano começou e já podemos afirmar que uma das mais importantes viagens presidenciais de 2011 está ocorrendo essa semana. A ida da presidente Dilma à China reveste-se de especial interesse para o Brasil, tanto em termos políticos quanto econômicos e comerciais.

Recentemente a China se transformou no principal parceiro comercial do Brasil, superando os Estados Unidos. Tem tudo para ser, igualmente, um importante investidor na economia brasileira, sem contar o fato de que pode também se transformar num parceiro estratégico em termos de cooperação científica e tecnológica.

Brasil e China já possuem uma parceria no âmbito dos BRICs, que incluem ainda a Índia, a Rússia e a África do Sul. Embora as posições chinesas caminhem cada vez mais para uma grande autonomia de interesses frente a esses outros países, podemos identificar nesse bloco um arranjo político que ajuda na aproximação entre os dois emergentes.

Mas o que mais importa para o Brasil com a China não é tanto a agenda política. Aliás, na arena política as divergências são mais fortes do que as convergências. Exemplo disso é que a China não deseja uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, posição que se confronta com um objetivo que o Brasil vem perseguindo há décadas.

Já no campo comercial o aumento do intercâmbio sino-brasileiro é visto, no geral, com bons olhos pelo Brasil. Todavia, a característica principal desse comércio tem preocupado cada vez mais as autoridades brasileiras. Apesar de próspero, ele está assentado em bases desiguais, no sentido de que o Brasil tem sido um grande exportador de matérias-primas e commodities e um grande importador de produtos manufaturados.

Trata-se, pois, de um comércio muito desigual e, até certo ponto, desvantajoso, uma vez que reproduz modalidades bastante conhecidas que não contribuem muito para o desenvolvimento econômico dos países que permanecem dependentes da exportação de matérias-primas e commodities.

Tem incomodado também ao governo brasileiro a grande concentração de investimentos chineses no Brasil na área de infraestrutura e na produção agrícola, sobretudo o planejamento chinês de se concentrar na produção de soja. Essa tendência sugere que os chineses desejam do Brasil principalmente os nossos recursos naturais e a exploração de nossa capacidade agrícola.

O que o governo brasileiro deseja é diversificar um pouco mais a nossa pauta de exportações, aumentar a venda de produtos industrializados e aumentar a parceria nos campos da ciência e tecnologia. Busca, também, fazer com que o governo chinês seja mais aberto para alguns investimentos brasileiros no país, haja vista que até agora várias empresas brasileiras tem tido grande dificuldade em produzir na China.


Enfim, as perspectivas diante do ?capitalismo amarelo?, nas palavras do professor Argemiro Procópio, são boas, mas desde que o Brasil atue com prudência e siga uma orientação política clara, que busque construir uma parceria que traga benefícios aos dois países e não simplesmente reproduza o modelo típico de relacionamento entre Norte e Sul.


Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: [email protected]





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