Direto ao ponto: Ficha-resumo
Dois países continuarão em destaque, regendo a sinfonia econômica do planeta: Estados Unidos e China. Deles dependem não somente a recuperação das finanças globais como os acordos referentes à diminuição da emissão de gases causadores do efeito estufa, cujas metas foram deixadas em aberto com o fracasso da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em dezembro de 2009.
Na América Latina, a política estará em foco, sobretudo no Brasil, com as eleições presidenciais e o início da era pós-Lula. Mas, antes disso, os olhares do mundo se voltarão para a África do Sul, que sediará o principal evento internacional do ano, a Copa do Mundo da Fifa.
Fim da "obamania"
O ano de 2010 será particularmente delicado para o presidente americanoBarack Obama. Passada a euforia da eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, o democrata precisará colocar as finanças domésticas em ordem, administrando um rombo bilionário por conta dos empréstimos que salvaram instituições financeiras e a indústria automobilística durante a crise econômica.
Na política externa, precisará cumprir metas que visam encerrar duas guerras, no Afeganistão e no Iraque, iniciadas há quase uma década pelo antecessor, o ex-presidente George W. Bush. No Iraque, este ano será de desocupação e entrega definitiva do governo aos iraquianos, enquanto que, no Afeganistão, a aposta é no reforço de efetivo para fortalecer as autoridades locais contra os talebans.
Soma-se a isso a queda de popularidade de Obama, que tinha um índice de aprovação de 70% no começo de 2009 e que, hoje, bate na casa dos 50%. A insatisfação de metade da população com promessas não cumpridas e falta de ações mais enérgicas deve refletir nas eleições parlamentares em novembro. Apesar de fechar 2009 com a sanção do projeto de reforma do sistema de saúde, o presidente corre o risco de perder este ano a maioria na Câmara dos Deputados, o que pode complicar seus dois últimos anos de governo. Já no Senado americano, são poucas as chances de os democratas saírem derrotados.
Dragão chinês
A China, em 2010, vai se tornar a segunda maior economia mundial, ultrapassando o Japão, além de, pela primeira vez, gerir 10% das exportações no comércio internacional. Depois de se recuperar da crise econômica mais rápido que outros países desenvolvidos, a China manterá a taxa de crescimento apenas um pouco menor que os 10% anuais que vinha registrando nas últimas três décadas. Nesse ritmo, especialistas preveem que ultrapasse os Estados Unidos em vinte anos (a mesma previsão era feita sobre o Japão nos anos 1980, antes que o país entrasse em recessão nos anos 1990).
Na política, o Partido Comunista Chinês vai tirar o máximo de vantagens da "Exposição Mundial", evento internacional realizado desde o século 19 e que este ano será em Xangai. Enquanto isso, o presidente Hu Jintao prepara suas substituições na liderança do partido, em 2012, e na Presidência, em 2013.
Contudo, a face mais dura do regime comunista será posta à prova em negociações com os Estados Unidos, em torno dos temas economia e mudanças climáticas, e, internamente, frente à tensão com minorias étnicas no Tibete e em Xinjiang, palcos de revoltas nos dois anos anteriores. O governo já se previne contra novas ondas de protestos, em especial no mês de outubro, quando será lembrado o aniversário de 60 anos da invasão do Tibete pela China.
Pós-Lula
No caldeirão da América Latina, a fervura será política, com destaque para as eleições presidenciais de outubro no Brasil. Será a primeira vez, desde o retorno das eleições diretas em 1989, que Luiz Inácio Lula da Silva ficará fora da disputa. O ex-metalúrgico perdeu três eleições para presidente e está no poder desde 2003, em dois mandatos consecutivos (veja filme indicado abaixo). Ele possui uma aprovação recorde da população brasileira, amparada pela estabilidade econômica do país e a despeito dos escândalos de corrupção em seu governo.
Os candidatos com maiores índices de intenção de votos são: o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef (PT). Serra tem maioria no Estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, ao passo que a eleição de Dilma depende da capacidade de Lula de transferir para ela sua popularidade.
O ano eleitoral deverá ainda interferir em uma das decisões mais importantes do Congresso em 2010, sobre o marco regulatório da exploração do petróleo descoberto na camada pré-sal. A comemoração dos 50 anos de Brasília também colocará em evidência a capital do país.
Outras eleições importantes ocorrem em países da América Latina, no ano em que se comemoram dois séculos de independência da América Espanhola. Para o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, 2010 será decisivo para testar sua influência na região. Disso depende a condução da economia do país e o preço do petróleo, que financia o socialismo "bolivariano" de Chávez, além dos resultados das eleições parlamentares em setembro.
Mudanças devem ocorrer no Chile, onde a direita tem chances de retornar ao poder depois de quase duas décadas fora dele, com Sebastián Piñera, que concorre à Presidência no segundo turno, disputado em janeiro. Na Colômbia, o desenlace das eleições presidenciais depende de uma decisão da Corte Constitucional sobre um referendo que permita mudar a Carta, para que o presidente Álvaro Uribe, desde 2002 no cargo, concorra a um terceiro mandato. Caso seja candidato, são grandes as chances de vitória.
Chantagem atômica
Em segundo plano, a Europa amarga uma taxa de desemprego que, estima-se, deve atingir uma marca histórica de 10%, o que corresponde a cerca de 57 milhões de desempregados na UE (União Europeia). A economia em ritmo lento deve dar vazão a políticas protecionistas dos mercados internos, incluindo medidas restritivas à imigração, além de protestos de rua. Mas os 27 países integrantes da UE começam o ano com novas regras, definidas pelo Tratado de Lisboa, que pretende, na prática, conferir maior representatividade ao bloco.
Na Europa Oriental, as disputas energéticas, como a que opôs Rússia eUcrânia em 2009 e deixou boa parte da Europa sem gás em pleno inverno, deverão ter novos capítulos.
Entretanto, é no Oriente Médio que estarão alguns dos maiores nós da diplomacia em 2010. O Irã, mais uma vez, será o centro das atenções. Além do desgaste político com as revoltas de parte da população, a insistência em levar adiante o programa nuclear sem a fiscalização da Organização das Nações Unidas (ONU) poderá levar a um conflito com Israel, caso sanções econômicas não surtam efeito.
Assim como a Coreia do Norte, que insiste em fazer testes com armas nucleares, o Irã também se coloca na contramão de debates sobre o desarmamento nuclear que ocorrerão em 2010. Na Coreia do Norte, continuarão ocorrendo especulações sobre o estado de saúde do líder Kim Jong-il, que nos bastidores prepara sua sucessão no poder. Longe da diplomacia oficial, as duas Coreias - Norte e Sul - irão medir forças pela primeira vez numa mesma Copa do Mundo, no ano em que lembram o centenário da ocupação japonesa.
Finalmente, acontecerá na África do Sul o maior evento de âmbito internacional de 2010. A Copa do Mundo deve ajudar o país tanto a expurgar o passado de divisão racial quanto a se diferenciar de países vizinhos como a Somália, devastada pela guerra civil. Desse país que, como o Brasil, idolatra o futebol, talvez guardemos as melhores lembranças deste ano.
Direto ao ponto |
Em 2010, Estados Unidos e China continuam em evidência. Dos dois países depende a lenta recuperação econômica global em consonância com uma política que previna o mundo dos efeitos catastróficos da mudança climática. Mas o ano também será de países emergentes como o Brasil, que realiza em outubro a primeira eleição presidencial desde 1989 sem a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja aprovação é recorde. E, além disso, será um ano de Copa do Mundo, realizada na África do Sul.
Os principais pontos da política e economia mundial em 2010 são:
Estados Unidos: será um ano difícil para o presidente Barack Obama, com a aprovação em queda. Na metade do mandato, ele enfrenta eleições legislativas que podem lhe custar a maioria na Câmara dos Deputados, além de ter como desafios sanar as contas públicas e lidar com as guerras no Iraque e no Afeganistão. No Iraque, deverá cumprir as metas de retirada das tropas combatentes até final de agosto.
China: o país vai atingir dois patamares históricos na economia: pela primeira vez, ultrapassará o Japão como segunda maior potência econômica do planeta e contabilizará 10% das exportações mundiais. Por outro lado, o regime comunista terá que lidar com dissidências étnicas e protestos, no ano que lembra os 60 anos da invasão do Tibete.
América Latina: o ano será de eleições, com destaque para a sucessão presidencial no Brasil, que marcará o inicio da era pós-Lula. O presidente tentará transferir sua popularidade para eleger Dilma Roussef, chefe da Casa Civil. Ela disputa o cargo com o governador de São Paulo, José Serra, que tem a seu favor o maior colégio eleitoral do país no Estado de São Paulo. Em 2010 também haverá eleições parlamentares na Venezuela, e presidenciais no Chile e na Colômbia, no ano em que se comemoram 200 anos de independência da América Espanhola.
Europa: na UE (União Europeia) deve entrar em vigor o Tratado de Lisboa, que confere mais representatividade ao bloco. Mas é incerto se isso ajudará o continente a enfrentar o fantasma do desemprego, que pode atingir a taxa recorde de 10% da população.
Oriente Médio: a insistência do Irã em continuar seu programa nuclear sem a supervisão da ONU pode levar a um conflito com Israel. As manifestações contra o governo iraniano continuam em 2010, mas será uma disputa interna pelo poder que definirá o futuro do país dos aiatolás. |
Saiba mais
O Mundo em 2010: além da crise econômica: edição especial da revista "Carta Capital" que traduz para o português as análises e previsões do ano feitas pela prestigiada publicação britânica "The Economist".
Lula, o Filho do Brasil (2010): filme dirigindo pelo cineasta Fábio Barreto e baseado no livro de Denise Paraná, conta a trajetória do presidente Lula, mas estreia cercado de polêmicas envolvendo financiamento e supostos propósitos eleitorais.